7/23/2016

Dos pequenos poemas sem futuro (11)


correm os dedos
por tua pélvis
o toque doce
do terremoto

na tua pele
o concreto derrete
e as ruas se curvam
não há mais dobras ou esquinas
só voltas
e voltas
e voltas...

aceleram os lábios
nos caminhos da nuca
as ruas, agora, são ondas
que estouram aos teus pés

e teus pés se atravessam
e teus pés se contorcem
emaranhados
com os meus.


Dos pequenos poemas sem futuro (10)


vi teu corpo pairando no ar
vi teu corpo debaixo do meu
vi teu corpo tremer
vi teu corpo da janela da sala
vi teu corpo de longe
vi teu corpo fundido
com meu corpo que é teu corpo
em um bloco só de mármore negro


Dos pequenos poemas sem futuro (8)

Caímos
Caímos todos
E caímos tanto
Se ainda caíssemos de mãos dadas
Diríamos da queda
coreografia

Se algum de nós tivesse um plano
Teríamos ao menos inveja

Se algum de nós tivesse ao menos um mapa
Teríamos ao menos
o fundo

Se algum de nós tivesse as horas
Teríamos ao menos o tempo
Para sonhar
Que estivemos juntos

Mas não há nada
que algum de nós tenha
que invejemos.
Não de verdade, pelo menos.


Caímos,

Todos,

Sozinhos,

No espaço vazio.

Dos pequenos poemas sem futuro (9)


eu tento teus beijos
e teus lábios me tentam

eu tento desejos
que tento não ter

eu tento tentá-la:

teu toque me entorta.


Dos pequenos poemas sem futuro (8)

Caímos
Caímos todos
E caímos tanto
Se ainda caíssemos de mãos dadas
Diríamos da queda
coreografia

Se algum de nós tivesse um plano
Teríamos ao menos inveja

Se alguém tivesse um mapa
Teríamos ao menos
o fundo

Se algum de nós tivesse as horas
Teríamos ao menos o tempo
Para sonhar
Que estivemos juntos

Mas não há nada
que algum de nós tenha
que invejemos.
Não de verdade, pelo menos.


Caímos,

Todos,

Sozinhos,

No espaço vazio.

Dos pequenos poemas sem futuro (7)


Estive o tempo tonto
À procura de ti

Tanta terra descobri
E nem nada de tesouro

Achei ouvir
- talvez -
A música do teu choro
E perdido prossegui:

errei.

Dos pequenos poemas sem futuro (6)


longo inverno -
juro mesmo que tentei
ser só um haicai

mas quis tua boca
e tua pele quente
- no vento frio

Dos pequenos poemas sem futuro (5)


Bato cabeça com a parede
Porque acredito na cabeça
Porque acredito na parede

Cada vez que eu caio
Eu me levanto
Cada vez mais tonto
Cada vez mais santo

Cada vez mais burro
Cada vez mais pronto
Cada vez mais anjo
Em cada muro
Que encontro

Cada tijolo é um tanto
Da cama pronta em que não deito
Um dia, vou confessar,
Já fiz um plano
De só estar,
ler
e ver as flores.
Mas não fiz direito.

Dos pequenos poemas sem futuro (4)


Há que se pendurar os Is nos pingos.
Essa coisa de deixá-los soltos
Passeando como manhã de domingo
Não vai deixar-nos redações ou manuais.

Um I solto é convidar problemas
É como prender sem algemas
Deixar tudo à esmo demais.

Essa coisa de permitir tanto, vos digo
Ainda há de incitar os marginais
Essa gente torpe que fala de amor
E perde tempo escrevendo poemas.